29/12/2020

PORRA - João Ximenes Braga

 



Ficha Técnica:

Título: Porra

País: Brasil

Autor: João Ximenes Braga

Gênero: Drama/Comédia

Ano de publicação: 2003

Editora: Objetiva

Páginas: 146

Rating: ⭐⭐⭐

Leia aqui

Esse é um livro que retrata uma realidade carioca no começo do século, com “dorgas”, sexo, assalto, estupro, morte e mais um monte de coisa que a gente faz questão de omitir e que estão nas ruas não só do Rio de Janeiro (onde se passa o livro) e nem só em São Paulo (onde eu vivo). Todos os lugares tem esse tipo de gente, situação, mas nós sempre nos omitimos (e não estou querendo tirar o meu da reta).

É muito mais fácil, muito mais confortável viver dessa forma.

Esse livro eu li em poucas horas. Não é grande e tem várias páginas de capa, para delimitar cada personagem, que são:

Eu vou colocar a sinopse para que eu não fale algo que acabe entregando o final. Faço isso porque eu não acho que consiga falar sem entregar o final:

Porra é uma novela tão feliz e agressiva quanto seus personagens. Jovens, nem sempre felizes, eles vivem em estados alterados de percepção do mundo – excesso de drogas, de ginástica, de álcool e sexo, de noites maldormidas, de dias entediados, de ações inconsequentes. É o excesso do excesso e nada de culpa. São tempos ácidos e rápidos. Em Porra, o ritmo também é vertiginoso.

Isso resume bem, são capítulos curtos e grossos (literalmente). Nunca vi tanto palavrão junto.

O título é bem sugestivo de que isso aconteceria, mas pra mim, eu acho que os palavrões e xingamentos tem um limite que beira o vocabulário chulo e o bom senso.


⚠ Alerta ⚠

Esse livro trata sobre:


Minha opinião:

Não saberia dizer se é um retrato muito fiel do que acontece no Rio nesses ambientes, simplesmente porque eu não vivo nesse meio e não vivo no Rio, mas pelo o que a gente escuta, principalmente nos noticiários, eu acredito que seja.

Não recomendo esse livro para pessoas que estejam passando por momentos difíceis – sejam lá quais forem. Tem gatilho demais para muitos tipos de reações, devido aos assuntos abortados (⤴).

Foi um choque de realidade para mim (menina de apartamento de classe média da capital paulista).

Vou deixar uma passagem que achei interessante:

Engraçado, você vive no Rio como se estivesse andando na rua dentro de uma bolha de ar condicionado, como se a sacola de compras com geléia importada não fosse uma afronta ao menino de rua, como se o eventual papelote de cocaína comprado na descida do morro a poucas quadras de casa não fosse uma contribuição à guerra civil que o cerca.

E no meio disso tudo, você se acha um cara legal. Legal, afinal de contas, pois, apesar de toda sua irrelevância, tem segurança de que seus ideais são bacanas. É a favor da cota para os negros nas universidades. Do aumento progressivo de impostos para forçar a distribuição de renda. De um sistema carcerário mais humano. E durante todo esse tempo, você exerce o ser legal votando cegamente no PT. Até que a porra do partido chega ao poder e você se descobre órfão daquele único ato que fazia de você um bom burguês. Agora você é situação em todos os sentidos. Tornou-se definitivamente uma irrelevância.

14/12/2020

Memórias de Uma Gueixa - Arthur Golden




Ficha Técnica:

Título: Memórias de uma Gueixa

Título original: Memoirs of a Geisha

País: EUA

Autor: Arthur Golden

Gênero: drama/romance

Ano de publicação: 1997

Editora: Arqueiro

Páginas: 446

Rating: ⭐⭐⭐⭐⭐++++ (pode dar 10 estrelas?)

Leia aqui


Antes de mais nada, é importante esclarecer um fato que muitos confundem: uma gueixa não é uma prostituta.

Sua função é entreter homens, mas não no sentido ocidental de “entretenimento”. É insinuar que elas são algo que eles nunca poderão ter. É distraí-los com conversas, danças, cantos, músicas e, claro, com a cerimônia do chá (que, acreditem, vai muito além de ferver ervas e colocar na xícara).

Claro que existiam as gueixas que se tornavam amantes de alguns homens, que eram chamados por elas de danna (que pode ser algo como marido em japonês). Mas uma gueixa jamais tinha mais de dois dannas durante toda a sua vida.

Se um homem se apaixonasse por ela e eles resolvessem se casar, ela deixava de ser uma gueixa e, ou voltava-se para a vida do lar ou se tornavam donas de suas próprias casas de chá ou okiyas.

Se uma gueixa deitava-se com um homem por dinheiro, era completamente por sua conta e risco, mas poucas faziam isso porque sabiam que estariam manchando por completo sua reputação e perderiam o respeito que as pessoas tinham por elas.

Esclarecido esse ponto muito importante, vamos então ao livro:

Se existe uma forma de descrever o final desse livro é: ressaca literária total. Ele mexeu comigo de forma intensa e me prendeu do começo ao fim.

A história é a biografia de Nitta Sayuri, a maior gueixa de Gion. Nela, ela conta como ela e sua irmã foram vendidas por seu pai para uma okiya, lugar que comprava meninas pequenas e a tratavam como escravas para depois treiná-las para se tornarem gueixas.

A história começa quando Chiyo tinha mais ou menos 6 anos. Chiyo era diferente das outras meninas da sua idade por ter os olhos “cinzas translúcidos”. Vivia feliz em sua “casa bêbada” com seus pais e sua irmã mais velha, Satsu.

Porém, um dia, sua mãe cai doente e seu pai, com medo de perder a família novamente (pois ja perdera a mulher e um filho antes), vende Chiyo e Satsu como escravas (o que, honestamente, não faz sentido).

A partir daí, Chiyo já é logo separada da irmã e trabalha como escrava para as três mulheres donas da okiya Nitta, que se autointitulam “Mamãe”, “Vovó” e “Titia”. A gueixa principal dessa okiya era Hatsumomo que é tão ruim quanto se pode imaginar que seria a gueixa considerada uma das mais belas com ciúme de uma menina com olhos tão incomuns e que poderia vir a apresentar uma ameaça para ela.

Diante de todos os desafios que se apresentaram, Chiyo conhece Mameha, uma gueixa mais velha que tem uma rixa com Hatsumomo e que decide adotá-la como sua “irmã mais nova”, o que significaria que ela se encarregaria de ensinar Chiyo como ser uma gueixa de verdade (e também lucraria com isso, se ela tivesse sucesso).

Um dia, com doze anos, ela cai aos prantos no meio da rua, pelo desespero que seus dias tinham se tornado em frente à um rio que corria na cidade de Gion quando um homem “de terno ocidental” lhe oferece a mão para que ela se levante e diz:

– Olhe só você… uma linda menina com nenhum motivo para ter vergonha. E mesmo assim tem medo de olhar para mim. Alguém foi cruel com você… Ou talvez a vida tenha sido cruel. […] Nenhum de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber.

Com isso, lhe entrega um lenço para que ela seque o rosto e lhe da uma moeda para que ela compre uma raspadinha. Logo, ouvindo as conversas de outras gueixas que o acompanhavam e dos colegas, ela percebe que ele deveria ser presidente de alguma empresa.

Com essa atitude tão bondosa, ela nem imagina que ele vai ser o homem que vai lhe inspirar a aceitar seu destino como gueixa e a trabalhar incessantemente para alcançá-lo. Essa paixão que vai guiar seus caminhos como a famosa gueixa Sayuri e sua trajetória se tornará fantástica.

Poucas vezes um livro me tocou tanto no sentido de ver como que a vida pode ser difícil, de como temos que aprender a lidar com os nossos sentimentos e em como tudo que temos pode ser tirado de nós, nos obrigando a recomeçar do zero.


Minhas passagens favoritas:

Separei para mostrar a vocês cinco passagens que me pareceram importantes, massss só vou falar de quatro, porque a última entrega o final da história 😋

1 – O encontro com o presidente, já mencionado acima.

 Um pouco antes de debutar como gueixa aprendiz, onde seria apresentada à sociedade de Gion como irmã mais nova de Mameha, sua tutora a ensina sobre o poder de um olhar. Com esse pequeno treinamento no meio da rua, Mameha desafia Sayuri a fazer com que um menino que a encarava, estupefato com sua beleza, a derrubar as bandejas que carregava. É muito engraçado e eu ria que nem uma retardada quando, somente com três olhares o menino tropeçou da calçada, derrubando tudo que trazia nas mãos.

3 – Nessa época, era costume dessa cultura leiloar a virgindade de uma gueixa aprendiz, como Sayuri. Por ser muito disputada, vários homens queriam pagar por ela, mas Mameha fez de uma forma que apenas dois homens “duelassem” por ela: Nobu, empresário que por acaso trabalhava com o presidente que ajudara Sayuri quando pequena e um médico que ela apelidara como Dr Caranguejo. Um pouco antes de o valor de 11,5 milhões de ienes serem pagos à okiya pela virgindade de Sayuri, Mameha tentara lhe explicar o que era sexo e como ele se dava e a metáfora foi maravilhosa. Basicamente, ela lhe dissera que os homens tinham “enguias” e que as mulheres tinham “cavernas”. As enguias dos homens sempre procuram cavernas para se esconder e que a maioria gostava mais daquelas que nunca haviam sido habitadas por nenhuma enguia antes. Disse-lhe também que as enguias eram muito territorialistas e que, quando encontravam uma caverna de que gostavam, elas se remexiam lá dentro até estarem confortáveis e, então, cuspiam nela para marcar seu território. Dá pra imaginar que ninguém lê uma história dessas sério, né?

4 – Depois de já ter pago suas dívidas com Mamãe e a okiya, Sayuri se transformou em uma gueixa de muito sucesso e depois de ter deixado de ser uma aprendiz, ela começou a fazer seus próprios compromissos, não precisando nem mesmo que Mameha a acompanhasse. Em um desses compromissos, ela conhece um homem chamado Yasuda, que despertou seus primeiros desejos (apesar de seu amor sempre ter sido o presidente). Ele era simpático e cortês. Gostava dela e, mesmo não tendo muito dinheiro, deu de presente para ela um quimono (que, mesmo o mais simples, era extremamente caro). Mas, exatamente por Yasuda não ter muito dinheiro, ele deu um quimono de baixa qualidade, a seda era mal feita e os bordados também, além de ser muito colorido para a estação. Como Sayuri estava encantada com o rapaz, ela guardou o quimono com carinho, mas Mamãe o pegou sem sua autorização e vendeu-o, dizendo que uma gueixa como ela não poderia usar uma coisa de tão baixa qualidade. Sayuri estava com tanta raiva que fez exatamente o que Mameha, Mamãe, Titia e até mesmo Hatsumomo disseram para não fazer: se deitar com um homem por apenas uma noite. Eu adorei essa passagem porque foi o primeiro traço de rebeldia dela que ela soube administrar as consequências e manter em segredo para que ninguém descobrisse.


Algumas citações:

A água sempre encontra fendas onde se infiltrar, cujo destino não pode ser detido.

Por isso sonhos podem ser tão perigosos: queimam como fogo e, às vezes, nos consomem por completo.

Ninguém de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber.

Nosso mundo não é mais permanente do que uma onda erguendo-se no oceano.

Quaisquer que sejam as nossas lutas e triunfos, qualquer que seja o modo como os expermentamos, em breve todos se fundem numa coisa só, como a tinta aguada de uma aquarela num papel.


Fun Fact:


A história foi adaptada para o cinema em 2005, com Zhang Ziyi como Sayuri e Ken Watanabe como o presidente.

Ao assistir ao filme, eu pude chegar a uma conclusão: nunca vi uma história tão bem adaptada quanto essa e eu digo isso em relação à fidelidade quanto ao livro.

Claro, várias cenas foram cortadas (inclusive a do Yasuda-san que eu mencionei acima 😢), mas isso é normal, visto que se filmassem o livro todo, seria um filme de, no mínimo, umas 10 horas, então é compreensível alguns cortes.

O filme me deixou completamente presa à tela da TV, de modo que eu pulei de susto quando o telefone tocou 😂.

Comparação (as poucas diferenças que eu encontrei entre o livro e o filme)

Gente, eu tentei procurar mais algumas divergências, mas eu não consegui porque, realmente, o filme é muito bom.

Já falei e repito: nunca vi uma adaptação tão bem feita. Sem contar que o visual do filme, você ver as gueixas maquiadas na tela, ver as paisagens lindas do Japão é muito mais emocionante (principalemente quando Sayuri dança).

E vamos colocar um detalhe aqui: Ken Watanabe é lindo, viu? Meu coraçãozinho dorameiro tava em prantos enquanto eu via o filme.

Uma lição muito importante que eu consegui extrair da dura história de Sayuri é: trabalhe duro pelo o que é importante para você e tenha paciência. Você vai conseguir alcançar o que quer, se tiver paciência.

Uma última opinião: eu achei muito estranho o fato de o presidente ter conhecido Sayuri quando ela tinha apenas 12 anos e ainda assim, ter se apaixonado por ela. Mesmo que eles só tenham ficado juntos depois que ela fez 30 anos e ainda assim, não ter se divorciado da esposa, visto que ele a amava tanto. Mas, no filme colocaram da seguinte maneira: para eles (naquela época – e talvez nos dias de hoje), os casamentos eram por conveniência e completamente arranjados. Claro que ele tinha filhos com a esposa, o dever da esposa era dar filhos ao marido, inclusive. Mas eles não poderiam se divorciar porque, provavelmente, ele (ou a empresa do pai dele) deveria ter algum tipo de ligação comercial ou de negócios com o pai (ou a empresa do pai) da esposa.

Então, é compreensível Sayuri ter dito no final que ele gostava tanto dela que era com ela que ele preferia ficar e foi ao lado dela que ele morreu. Foi por ela que ele se apaixonou, apesar de eu ainda não curtir muito esse gap enorme de idade entre eles.

09/12/2020

Os Momentos de Desespero

 Sabe quando bate aquele desespero de tarefa incompleta?

Aqueles momentos em que tudo o que você queria era jogar tudo pro alto porque não aguenta mais?

Acho que é a pior sensação do mundo.

Agora, por exemplo. Ontem eu fiquei das 15h as 18h e depois das 20h as 03:30h escrevendo três capítulos pro livro e revisando o capítulo seguinte para que o anterior fizesse sentido.

Dormi as 3:30, me acordaram as 7:30h e não me deixaram pregar o olho por um minuto no dia de hoje. Não que fosse culpa de alguém aqui de casa, eu tenho toda a liberdade do mundo de largar tudo o que eu estou fazendo e ir dormir (como por exemplo, era o que eu deveria estar fazendo agora).

Mas uma nuvem de cobrança que nunca na vida se fez presente, agora se apossa da minha cabeça 24/7.

Se eu não estou escrevendo e/ou revisando meu texto, eu me sinto culpada por não estar “levando meu sonho para frente, onde eu quero que ele chegue”. 

No último capítulo do diário, eu postei sobre como era exaustivo ser uma escritora. Sobre como meu cérebro parece fritar. (Se você não viu e tem interesse de ver, é o post logo acima desse no menu “Diário” e chama “Vida de Escritora”).

Então eu uso o tempo que eu não estou escrevendo o livro para pesquisar sobre temas legais para postar aqui e no bookstagram. Tive várias ideias diferentes e já tenho três templates montados, só esperando a hora certa de postar (que vai ser daqui há várias semanas).

Só que essa pesquisa toda também cansa. Também me deixa exausta. E, o pior de tudo: anda me deixando tão cansada que eu não tenho vontade de ler meus livros. Ou de ver minhas séries atrasadas.

Cara, eu não consegui nem abrir o Disney+, só pra vcs terem noção do que eu to falando.

Não sei dizer se eu que me canso fácil ou se o caminho é realmente árduo assim mesmo. 

Como eu postei há alguns dias atrás, tem dias que meu cérebro liga do 220 e eu produzo mil coisas, tenho ideias de mil coisas diferentes, de plots, de personagens, de posts... tudo vem a milhão e eu que tenho que acompanhar a velocidade que meu cérebro trabalha.

E tem dias como hoje, que eu me sinto um saco de batata usado, pisoteado e que ainda tem algumas batatas podres e amassadas presas no fundo.

Mas o de hoje tem motivos para isso (além do pouco sono obtido na noite passada). O primeiro, seria que todo o meu esforço de ontem não deu resultado, o que significa que os capítulos que eu escrevi estão uma bosta e que não dá pra usar no livro (o que não significa que eu apaguei, mas guardei porque, vai que uma hora eu preciso de algo parecido com aquilo?).

Desse problema acima, deriva-se o fato de que eu pretendia publicar o livro até dia 20/12 e eu duvido que isso vá acontecer porque tá difícil demais andar pra frente e eu juro que não estou sendo pessimista, só estou fazendo um desabafo sincero e desesperado.

O segundo motivo é que, a capa que eu fiquei dias fazendo não ficou boa. Inclusive, acho que a minha prima de 7 anos faz melhor que eu. Meu namorado tentou mudar, mas sei lá... não sei o que vai sair não.

Então, temos a seguinte equação:

Estar sem dormir + capítulos retirados porque não estavam bons + capa que também não estava boa = desespero nível hard.

Não sei o que fazer, me sinto inútil. Queria ter a criatividade que as meninas que eu sigo têm. Queria ter as habilidades completas que elas têm. As vezes, me pego querendo ser essa outra pessoa.

Não gosto de mim mesma, nunca gostei. Mas e aí? O que pode ser feito?

Nada. E é assim que as coisas funcionam: você se sente um lixo e dorme. No dia seguinte, você levanta e a vida segue, porque não pode ficar parado. Deixa as coisas fluírem e pede a qualquer ser no qual você acredite que te dê iluminação pra voltar a fazer o que você sonha.

É um ciclo e ele se repete, sempre da mesma forma: um dia você funciona, no outro não. E, apesar do clichê, tá tudo bem.

Só mentalize essa frase de “está tudo bem” e faça o que te dá prazer nesses dias de lixo. Não se force nunca, isso não vai te levar a lugar algum.